E como se não houvesse mais nada de interessante, eles estavam lá, dois opostos tão distantes, separados apenas pela mesa, bem posta, quase intocável, de um restaurante; aquele mesmo, do primeiro encontro, no dia em que um olhar só fora o bastante. A música ao fundo fazia de tudo, menos acalmá-los. As pernas tremiam num ritmo indeterminado e, quando se tocavam, dois sorrisos sem jeito surgiam de repente, como se aquele indício, quase que imperceptível, de relação fosse o mais proibido dos pecados. As mãos, molhadas por um suor gelado, faziam questão de dançar nesse balé desregrado, ditado pelo piscar incessante e nervoso dos olhos, ora acometidos por uma falsa despretensão, ora pela inevitável esperança. Das bocas, saíam algumas poucas palavras tortas que, em meio à falta de sentido, serviam apenas para que o grito não despertasse na hora errada. Era fato: cada um queria esconder todos os seus defeitos, fosse qual fosse o sacrifício, mas não passou do início, nem demorou sequer três sorrisos para que ficassem à vontade. Foi então que começaram a transparecer as diferenças, as crenças, os ideais. De um lado, um passado escondido, talvez por sofrimento; do outro, um jorro de lembranças e momentos, dos quais um não queria lembrar, e o outro, ouvir falar. Ideias mais que divergentes, pensamentos inerentes ao estilo de cada um. Discussões que pareciam infindáveis, interrompidas por um semblante fechado, um rosto virado para o lado, um tom de voz alterado e um silêncio inquietante, nem um pouco satisfatório. E entre essas idas e vindas, um sentimento de cumplicidade afetava, igualmente, as duas metades, mesmo sem ninguém saber por que. Para os dois, naquele momento, parecia loucura pensar em amor. Ela pensava: com ele, não; ele imaginava: com ela, nunca. Pobres relutantes, mal sabiam que já era tarde demais. E, apesar de tudo, não tardou para que se entendessem e que a história, de fato, começasse. Foi rápido demais pra que qualquer um compreendesse; foi forte demais pra que o mundo esquecesse. Até havia quem achasse ser apenas mais uma de amor, mas era muito mais. Eram, indiscutivelmente, dois mundos. Mas também era, claramente, o melhor de cada um.
Entrelinhas mal traçadas, estas linhas desgarradas são receitas mescladas de previsão e nostalgia. É loucura sana de amor; clausura insana interior. Prosa e Poesia.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Pseudo-eloquência
"Ora, ora, meu caro, diga se não é para revoltar-me: certa feita, enquanto caminhava, distraído, por uma dessas ruelas movimentadas do centro, um covarde transeunte, recluso em seu anonimato, esbravejou: “- Mas olhem sós, se não é o mais novo poeta do século, aquele que acha que pode falar de tudo e de todos!?!? Cuidado com essa língua solta!! –“ Rapidamente, todos me fitaram e riram da minha expressão assustada; ao final das contas, fui pego de surpresa. Mas não pense que me incomodei com aquela crítica, ou mesmo com a chacota. O que me deixa descontente é constatar que aqueles que não me conhecem bem julgam-me como mais um daqueles poetas desvairados, loucos para mudar um mundo sem jeito. E pensam que sou como os românticos, que frente a qualquer crítica mal feita, trancavam-se em seu claustro sombrio e se vingavam mergulhando em versos melancólicos. Não que o romantismo não me agrade, até me apraz muito, mas havemos de convir que seus representantes eram de uma fragilidade exacerbada, apesar de motivos pessoais e históricos. Minha vingança é muito mais sutil, eles que aguardem as minhas palavras. Enfim, esta não é a hora apropriada para falar sobre literatura, ou então passaríamos dias e noites em claro debatendo sobre a minha maior paixão. E, como bem sabes, sou um mero poeta apenas nas horas vagas e tenho os meus afazeres."
Eu ainda não sei por que pus esse pequeno texto. Encontrei ele agora há pouco, procurando alguns arquivos no meu computador e resolvi postá-lo. Era um principio de estória, mas resume bem algumas coisas; outras não passam de mera ficção, talvez bem relatada.
Sinceramente? Eu realmente achei que não fosse mais voltar aqui, ou talvez demorasse um longo tempo para fazê-lo. Mas o problema é que eu não resisto, é mais forte que eu; por mais que eu diga que não vou voltar, sempre acabo dando asa pra essa imaginação que não me deixa em paz: ela chega, entra sem pedir e teima em não ir embora. Por isso, eis-me, e, mesmo não agradando a todos (lê-se: a alguns poucos), um esboço de reação é inerente ao meu retorno, nem um pouco triunfante.
Confesso que essa semana me desanimei em relação aos meus escritos. Andei vasculhando alguns blogs alheios, a fim de aprender um pouco mais sobre esse ramo literário, e cheguei à conclusão que ainda não sei escrever nada. Melhor que isso foi conseguir enxergar a iminente necessidade de tomar vergonha na cara e me dedicar um pouco mais a uma das poucas utilidades que me aprazem.
Porém, apesar dessa injeção de coragem, o principal ainda não me veio - ou talvez já esteja aqui, eu é que não percebi. As ideias. Sim, eu tenho muitas, mas nada compatível com o que eu quero, e com o que você talvez queira, se não estiver entrando aqui apenas para me fazer um favor. Eu sei que prometi, na postagem passada, assuntos interessantes e coisas novas. Receio ter falhado. Mas tentem me entender: não foi, de todo, culpa minha. O ano corrente não é dos melhores para se dedicar a outra coisa senão o vestibular, principalmente se for uma segunda tentativa. E eu tenho passado mais tempo, durante a semana, no cursinho do que em casa. Claro que isso não é desculpa, já que os fins de semana existem, também, para esse tipo de coisa; mas havemos de convir que é muito pra uma pessoa só.
E pra piorar tudo, eu só me vejo dividido entre pensamentos didáticos e amorosos. Isso quando ambos não se confundem, já que ela - a, por mim, mais adjetivada de todas - tem frequentado o mesmo ambiente estudantil que eu. Bem, isso não vem ao caso. Isso aqui não é um diário, muito menos uma sessão de terapia amorosa.
Por fim, se você chegou até aqui, já é um grande progresso, e, se não foi por aquele motivo citado anteriormente, eu fico demasiado grato. Gostaria de pedir, encarecidamente, que se comova com a minha história e me ajude nessa tarefa, ou seja, se estiver interessado, podemos revitalizar isso que eu chamo de meu blog e torná-lo algo, de fato, útil. E, ah, qualquer ideia será bem-vinda.
Grato desde já.
Hugo Trapp’s
(P.S.: Por favor, relevem qualquer defeito da letra, a minha paciência esgotou depois da 45ª tentativa de mudança.)
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